segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sobre o frio



Sim, aqui faz muuito frio! Algo desumano mesmo. Quando fomos passar o dia em Colmar para ver as feirinhas de natal eu pensei que fosse chorar de tanto frio que estava sentindo. Temperaturas imensamente negativas são super comuns: Chegamos a -20º aqui um dia. Dizem que nunca nevou tanto na cidade, mas, para meu desapontamento, ainda não fiz um boneco de neve! Hei de fazer qualquer hora.
Infelizmente, não é só esse frio que me abala por aqui...
Existe uma frieza glacial entre as pessoas, em muitos momentos. Não vou exagerar, não é todo mundo que é assim, não. Alguns transmitem uma alegria contagiante, embora que sempre diferente da nossa, com aquele calor que conhecemos no Brasil.
Ou, talvez, seja só minha impressão... Porque, querendo ou não, a diferença marcante das línguas acaba gerando uma certa lacuna nas relações. Embora que gestos, olhares e sorrisos falem muito mais que as palavras, em qualquer idioma. Sinto falta de acolhimento, alguém com quem contar de verdade, sem interesses. Encontrei isso aqui nos dois brasileiros com quem partilhei 2 meses de experiências... Mas, enfim, o estágio deles terminou. Em fevereiro chegará uma nova brasileira, pra minha alegria! Tenho usado muito o skype e o MSN desde que cheguei, o que diminuiu bastante a solidão. Sinto falta do namorado, da família, dos velhos amigos, pessoas que eu sei que estarão sempre dispostas a enfrentar qualquer coisa comigo. Por mais que eu tenha conhecido gente de um coração enorme aqui, ainda assim, não posso afirmar com certeza que posso contar com eles. Pode ser uma questão de tempo, imagino. De qualquer forma, viver isso na pele é muito bom para nos fazer crescer e nos levar a refletir mais sobre o que, de fato, importa na vida.


Amigos, muita saudade! Amo vocês!


sábado, 9 de janeiro de 2010

Sobre a felicidade



Sou adepta da filosofia de vida que aponta que quando pensamos que a felicidade é ponto de chegada, nos enganamos. Na verdade, a felicidade é o caminho. Que mania essa de acreditar que um dia vamos encontrá-la e pronto, ela nunca mais nos deixará. Ilusão. Talvez o melhor mesmo seja torná-la um estilo de vida, tê-la como fiel companheira de jornada... Talvez devêssemos ser mais íntimos dela. Por que não?
Escolhi esse tema já que seguidamente me questiono o que é felicidade para os franceses em geral. Penso no exemplo da minha chefe. Como presente de casamento, ela ganhou um hotel que é praticamente um filho, visto que levou 9 meses para ser construído. Admiro a coragem dela de casar-se com o chef de cuisine de um renomado 3 macarons* (essa é a classificação dos restaurantes segundo o Guia Michelin, sendo que 3 é o máximo de excelência). (Ele) uma pessoa difícil de lidar, que vive sob pressão contínua da busca pela perfeição em todos os aspectos, frio, aquele esterótipo de pessoa cujo humor diário é uma loteria! Pois é, ela teve coragem... e, mais do que isso, conseguiu de alguma forma reavivá-lo, trazê-lo à vida.
Hoje, depois de dez anos (o hotel tem 3), ela vive um casamento visivelmente infeliz, mora em cima do hotel num apartamento que ela não considera sua casa, tem muito, mas muito dinheiro na conta, um carro lindo, uma filha do primeiro casamento e uma neta.
Tantas vezes ficamos pensando 'ah, se eu fosse rico...' Mas, aquela velha pergunta, qual a verdadeira riqueza? Perguntei uma vez pra uma das camareiras se ela considerava nossa chefe feliz. Ela disse veemente que não. Segundo ela, "a chefe tem muito, mas muito dinheiro... Mas eu sou mais feliz que ela". Então?
A moral da vida não é ser feliz? Que tal deixar de lado esses apegos e ir morar na praia? Num casebre em frente ao mar... tendo a certeza de que cada nascer do sol traz consigo mais um dia de pura felicidade.
Tudo bem, tirando o romantismo de lado, por que nos é assim tão duro de aceitar ser feliz todo santo dia, apesar dos pesares? Quero dizer, independente da nacionalidade.

* Macarons são doces, de origem bem antiga, à base de claras de ovos batidas com açúcar e farinha de amêndoas, recheados com creme à base de manteiga, geléia ou ganache. Nos mais diversos sabores: baunilha, pistache, framboesa, rosas, maracujá, chocolate... Eu provei um super refinado da Loja Pierre Hermé de trufa (o tipo de cogumelo). Dizem que era produzido no séc. XVII pelas freiras carmelitas e ofertado às noviças que não comiam carne.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sobre as pessoas



Óbvio que existe um choque sempre que nos deparamos com uma cultura diferente. Não precisamos ir para outro país para provarmos deste sentimento, basta um pulinho na cidade mais próxima para encontrarmos desde as mais tênues até as mais significativas diferenças no modo de ser e agir dos indivíduos.
Basta começarmos do princípio de que as pessoas em si já têm seu próprio infinito particular, o qual nos aproxima e ao mesmo tempo nos distancia uns dos outros.
O fato é que o relacionamento interpessoal nem sempre é fácil, até mesmo com nossos amigos e familiares que conhecemos e nos conhecem há muito tempo.
Chegar em um ambiente totalmente estranho, em que as pessoas aprenderam a se relacionar de uma maneira bastante distinta da nossa, em que a língua que elas falam é considerada um tesouro, questão de patriotismo mesmo, definitavemente, não é simples.
Não digo que é difícil, só não é simples.
No Brasil, muita gente confia, desconfiando. Ou então, confia até provar o contrário. Aqui, não. Os franceses desconfiam. E como desconfiam. Mas, a partir do momento que confiarem, você terá muito mais credibilidade quando cometer erros do que teria com os brasileiros.
Até mesmo nas relações de trabalho. No Brasil, se um funcionário insistir em cometer o mesmo erro, ele é demitido - e por justa causa na maioria das vezes. Aqui não. Aqui eles massacram, apontam o erro na tua cara, mas não te abandonam.
E é por isso que um amigo costuma dizer que para dar certo um estágio/emprego aqui é preciso deixar o orgulho e o ego no aeroporto. Minha amiga acrescenta que a gente deixa isso e um pouco mais... Porque, de verdade, eles não têm pena de ninguém. O trabalho está aí, precisa ser feito, mas feito com perfeição.
Considero bizarras certas situações, pois fica difícil não compará-las com o que aconteceria no nosso país. Por exemplo, imagina uma estrangeira estagiando no Brasil: Certamente todos (e não estou exagerando) iriam tentar inserí-la da melhor maneira possível ao país, às pessoas, ao emprego, tudo. Aqui, não. Aqui a pessoa tem que merecer isso de alguma forma, tem que provar que vale a pena o esforço.
O próprio fato de eles não te darem a chance de mostrar que você consegue falar a língua deles, já considero uma tremenda indiferença, para não falar preconceito. Aos poucos, fui colocando a cara nas conversas, para mostrar que eu sei o que eles estão falando, que eu não sou 'con' como eles costumam dizer (idiota).
Então, com o tempo fui ganhando a consideração de alguns. Mas, acreditem, não podemos esperar muito. Porque, um dia eles são teus melhores amigos e confidentes (geralmente quando tem álcool na história), no outro eles dizem um 'bon jour' forçado e nem lembram mais direito quem você é.
Por outro lado, não posso deixar de comentar os momentos em que eles me surpreenderam positivamente. Por exemplo, no Natal teve um estagiário do restaurante que comprou presentes para todos que iam jantar junto conosco no dia 24. Eu ganhei um livro de receitas de biscoitos alsacianos, adorei, porque estava mesmo querendo saber qual era a receita do biscoito que eu havia provado uns dias antes. Esse mesmo estagiário distribuiu cartões postais da cidade dele para todos, para que tivéssemos uma ideia de onde ele vem. Tudo bem que o nome é engraçado (Chateau Gay hahah), mas, enfim, a intenção foi boa, até porque ninguém teve iniciativa parecida.
No Natal, também, eu escrevi cartas para todo mundo lá do hotel, mas sem esperar nada em troca. Escrevi para demonstrar minha gratidão, especialmente com as camareiras e o Salim, que é o chefe de recepção, os quais tiveram muita paciência com minhas limitações, tanto de língua, quanto de costumes. Qual não foi minha surpresa? No dia 25 chego para trabalhar e eles haviam feito uma vaquinha para comprar um cartão e um presentinho pra mim. Fiquei super emocionada, porque, de fato, não esperava nada (especialmente depois do incidente de eu ter sido a única a não receber presente de natal da chefe). Ganhei uma pulseira e um ouriço da sorte heheh (vai entender, mas ele é bonitinho!).
Às vezes me sinto verdadeiramente confusa em relação a eles, porque fica difícil de saber o que esperar. Mas, vamos deixar claro que não estou escrevendo isso tudo para condenar a maneira deles de viver, bem pelo contrário (já que assim eu estaria cometendo a mesma falta: o preconceito). Escrevo para mostrar a diversidade do ser humano. Acho incrível o modo com que as culturas foram se desenvolvendo e aprendendo a viver e a se relacionar, seja pela guerra ou pela paz. Não sou nenhum filósofo ou historiador, não entendo nada do assunto, escrevo como uma leiga, e como tal, com uma visão superficial, ingênua, mas sincera do assunto.
Aí voltamos ao princípio, que lidar pessoas nem sempre é fácil, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Como dizia meu professor de Comportamento do Consumidor, em relação às pessoas, só vemos o pico do iceberg, aqui dentro de cada um de nós existe muita coisa que nem mesmo a gente conhece às vezes, o que ele definiu como influências intrapessoais (variáveis pessoais e subjetivas do indivíduo) e influências interpessoais (contexto sociocultural).
É, acho que agora fui longe demais... ;)


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sobre as festas de final de ano


Bem sinceramente, eu estava com muito medo de passar o Natal e o Ano Novo chorando de saudade! Mas, para minha surpresa, o pessoal daqui se mostrou muito bacana, tornando ambas as ocasiões muito divertidas e surpreendentes.

Fiquei decepcionada com minha chefe, porque eu fui meio que esquecida no Natal. Todos - absolutamente todos - ganharam presentes de Natal, inclusive os estagiários do restaurante como eu no hotel, menos a Lih! Óbvio que não vim para cá em troca de presentes, bem como eu sei que o significado do Natal é muito maior que isso, mas o que doeu mesmo em mim não foi não ter ganho o bendito presente, foi na verdade a tremenda indiferença que recebi da parte deles. O sentimento de exclusão não é nada agradável para ninguém. Mas, enfim, só para vocês saberem como estava me sentindo na ocasião.

Para o Natal, o subchefe do restaurante agilizou as coisas para prepararmos, nós mesmos, o jantar. Então, dia 24 me reuni com mais outras 6 pessoas que não puderam voltar para casa (um japonês, dois franceses, um holandês, um mexicano e um brasileiro), para dar início aos preparativos!

Foi muito bacana porque a maioria era estagiário da cozinha, então a ceia foi super caprichada.
Como primeiro prato, comemos foie gras com confiture de figo e croustillant de framboesa e iogurte. Em seguida, como segunda entrada, tivemos salmão e aí veio o prato principal que foi um bife wellington e um gratinado de legumes (nesse ponto eu já estava estourando hehe, nem consegui comer a carne, mas o guris deram conta rapidinho). Fechando com chave de ouro, a sobremesa: Buche de Noël (a tradicional Bûche de Noël é uma espécie de rocambole, que pode ser recheado com vários sabores diferentes e tem cobertura de chocolate, para imitar um tronco de madeira). Todos os pratos acompanhados de um vinho/espumante diferente.
O legal da ceia é que pudemos usar uma mesa do salão do restaurante para jantar.. então, tudo ficou com um ar mais especial.

Já o Ano Novo foi diferente... Nós mesmos fomos no mercado e preparamos tudo... Tivemos um cardápio bem alternativo, por assim dizer hehe Pra começar comemos Guacamole com chips (eu que preparei haha), ostras e yakimeshi que o Shun (japa) preparou... Nesse ponto a gt ja tinha comido um monte... mas ainda faltava as tortillas que o Álvaro tinha preparado..
Depois disso, fomos pra casa onde moram 5 estagiários normalmente, que é do outro lado do riozinho que passa aqui atrás do restaurante, para passar a virada de ano... comemos sobremesa (sorvete de baunilha com calda de frutas vermelhas, morango, mirtilo e groselha).

Enfim, agora já estou de férias, contando os dias para a Michelle vir para cá e a gente viajar juntas pela França... contarei detalhes depois.

Bonne Année 2010!



terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma repassada no início de tudo...


(texto escrito em out/09)
Oi, amigos...
Agora finalmente pude tirar um tempo pra escrever e contar pra vocês direito como tem sido essa experiência.
Os dias em Paris foram ótimos.. a cidade é linda e tirando um francês ou outro, muita gente foi compreensiva comigo e me ajudou quando tive dificuldade, mesmo sem me conhecer.
Tive um problema no metrô quando estava vindo pro hotel onde estou trabalhando, porque colocaram alguma coisa nos trilhos e atrasou tudo... fiquei super triste porque lá ninguém tava afim de me ajudar e eu trazia duas malas grandes, mais mochila e bolsa... foi dificil, mas entre uma dificuldade e outra a gt sempre cresce.
Por causa dos atrasos, quando cheguei nao tinha ninguém pra me pegar na estação de Niederbronn - que é a mais próxima da minha cidade: baerenthal - então, por sorte, a Madame Nicole Klein que é minha chefe tava passando lá bem na hr e pensou que fosse a nova estagiária por causa das malas. Ela estava com a filha e a neta de dois meses passeando... então, acabei indo tomar café com elas, o que foi ótimo né... aqui é tudo bem formal e um pouco distante. Assim tive oportunidade de falar pra ela quem eu sou de fato e tudo mais.
Fiquei bem feliz porque meus chefes elogiaram já duas vezes meu francês... to me virando bem, faz só dois dias qu estou aqui, então até o final do estágio estarei ótima.
Ontem chegou uma francesa que vai dividir quarto comigo... ela trabalha no restaurante - que é um 3 estrelas do Guia Michelin, o maximo que um restaurante pode ter de excelência. Lá tudo tem que ser sempre perfeito, a margem de erro é 0. Em fevereiro começo a trabalhar na sala do restaurante, que se chama L'arnsbourg... O Hôtel K, que é dirigido pela esposa do Chef Klein, fica bem em frente ao restaurante. As pessoas que se hospedam vêm até aqui só pra jantar ou almoçar no 3 estrelas.
Aqui é bem no meio da floresta mesmo, e é lindissimo, porque agora é outono... de manhã enquanto eu arrumo os quartos, dá pra ver o vento batendo nos galhos e asfolhas caindo. Eu amo o outono. hehe
Ontem meu primeiro dia de trabalho foi super dificil... o hotel está cheio, são só 12 quartos, mas são enormes... tenho que subir e descer MUITA escada. Essa semana ainda tem uma camareira comigo que tá me mostrando o serviço.. mas a partir d sabado que vem vou tirar toda a roupa suja e arrumar as camas sozinha. além de colocar tudo pra lavar, secar e depois dobrar as toalhas e saidas de banho. Isso das 11 às13:30h. Eu almoço no hotel mesmo e a comida é super refinada... a madame almoça com a gt, o que eu considero super gentil da parte dela... todos me acolheram super bem lá e são bem compreensivos e simpaticos. As camareiras adoram uma fofoca, isso não muda em lugar nenhum do mundo né. Hoje, por exemplo, eu almocei salmão haha.. é sempre refinado o negócio, porque vem do restaurante mesmo as comidas.
De tarde, eu termino de lavar e dobrar roupa .. depois ajudo nos check-in, dando drink de boas vindas, chá, café, torta e tal... e depis eu faço o serviço de abertura de leitos... coloco chocolatinho, arrumo o que tiver fora de lugar... tiro o lixo. Depois, eu troco as velas (tem vela por tudo lá de noite.. o hotel é lindo), coloco a louça da cozinha da máquina, seco, guardo e posso ir embora.
No final do dia fico morta... hoje to mais tranquila porque só havia 4 quartos vagos... mas ontem eram 12...é bem puxado.
Geralmente domingo chega gente e segunda... terça e quarta o hotel fecha, mas quinta, sexta, sabado é sempre lotado. O trabalho não é difícil, mas em compensação é mega cansativo... meus pés ficam moídos.
Tô me adaptando ainda... não é fácil, mas pelo menos tem uma brasileira e um brasileiro aqui que são super gente boa e que se ofereceram pra me ajudar em tudo que eu precisar.
O problema é conseguir ir no mercado.. porque é longe e temos que ir de carro... é preciso esperar alguem te convidar pra uma carona, ou então pegar um taxi... mas dai é uns 30 euros né... se for pensar, é bastante.
Aqui, como diz meu pai haha, é terra de ninguém... se tu nao for atrás das tuas coisas, ninguém tá nem aí... a sorte é que essa brasileira é bem mãezona e me dá várias dicas...até pra agilizar meus papéis e tudo mais.
Hoje a noite o pessoal que trabalha aqui se reune na casa dos outros estagiarios.. porque têm uns que ficam aqui em cima do restaurante, como eu, e uns outros que moram numa casa, que é bem melhor, porque tem tv, cozinha, td mais... mas é preciso conquistar um lugar aqui... ano que vem vou poder ter um quarto so pra mim porque a brasileira que tá sozinha vai embora. É importante fazer vários amigos, porque senão fica impossível viver aqui.
Bom, acho que por eqto é isso... ah, de tarde meu horário é das 16h as 21h, e a diferença de fuso horário aqui é 3 hrs a mais do que no Brasil.

Let's get it started ;)


Chegando quase à metade da minha estada na França resolvi tomar 'vergonha na cara' e registrar as experiências que tenho tido aqui. Um reforço para minha memória fraca e uma espécie de conforto para aqueles com quem tenho mantido pouco contato desde que parti. Para os outros, sintam-se à vontade ao ler meus desabafos...