quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sobre as pessoas



Óbvio que existe um choque sempre que nos deparamos com uma cultura diferente. Não precisamos ir para outro país para provarmos deste sentimento, basta um pulinho na cidade mais próxima para encontrarmos desde as mais tênues até as mais significativas diferenças no modo de ser e agir dos indivíduos.
Basta começarmos do princípio de que as pessoas em si já têm seu próprio infinito particular, o qual nos aproxima e ao mesmo tempo nos distancia uns dos outros.
O fato é que o relacionamento interpessoal nem sempre é fácil, até mesmo com nossos amigos e familiares que conhecemos e nos conhecem há muito tempo.
Chegar em um ambiente totalmente estranho, em que as pessoas aprenderam a se relacionar de uma maneira bastante distinta da nossa, em que a língua que elas falam é considerada um tesouro, questão de patriotismo mesmo, definitavemente, não é simples.
Não digo que é difícil, só não é simples.
No Brasil, muita gente confia, desconfiando. Ou então, confia até provar o contrário. Aqui, não. Os franceses desconfiam. E como desconfiam. Mas, a partir do momento que confiarem, você terá muito mais credibilidade quando cometer erros do que teria com os brasileiros.
Até mesmo nas relações de trabalho. No Brasil, se um funcionário insistir em cometer o mesmo erro, ele é demitido - e por justa causa na maioria das vezes. Aqui não. Aqui eles massacram, apontam o erro na tua cara, mas não te abandonam.
E é por isso que um amigo costuma dizer que para dar certo um estágio/emprego aqui é preciso deixar o orgulho e o ego no aeroporto. Minha amiga acrescenta que a gente deixa isso e um pouco mais... Porque, de verdade, eles não têm pena de ninguém. O trabalho está aí, precisa ser feito, mas feito com perfeição.
Considero bizarras certas situações, pois fica difícil não compará-las com o que aconteceria no nosso país. Por exemplo, imagina uma estrangeira estagiando no Brasil: Certamente todos (e não estou exagerando) iriam tentar inserí-la da melhor maneira possível ao país, às pessoas, ao emprego, tudo. Aqui, não. Aqui a pessoa tem que merecer isso de alguma forma, tem que provar que vale a pena o esforço.
O próprio fato de eles não te darem a chance de mostrar que você consegue falar a língua deles, já considero uma tremenda indiferença, para não falar preconceito. Aos poucos, fui colocando a cara nas conversas, para mostrar que eu sei o que eles estão falando, que eu não sou 'con' como eles costumam dizer (idiota).
Então, com o tempo fui ganhando a consideração de alguns. Mas, acreditem, não podemos esperar muito. Porque, um dia eles são teus melhores amigos e confidentes (geralmente quando tem álcool na história), no outro eles dizem um 'bon jour' forçado e nem lembram mais direito quem você é.
Por outro lado, não posso deixar de comentar os momentos em que eles me surpreenderam positivamente. Por exemplo, no Natal teve um estagiário do restaurante que comprou presentes para todos que iam jantar junto conosco no dia 24. Eu ganhei um livro de receitas de biscoitos alsacianos, adorei, porque estava mesmo querendo saber qual era a receita do biscoito que eu havia provado uns dias antes. Esse mesmo estagiário distribuiu cartões postais da cidade dele para todos, para que tivéssemos uma ideia de onde ele vem. Tudo bem que o nome é engraçado (Chateau Gay hahah), mas, enfim, a intenção foi boa, até porque ninguém teve iniciativa parecida.
No Natal, também, eu escrevi cartas para todo mundo lá do hotel, mas sem esperar nada em troca. Escrevi para demonstrar minha gratidão, especialmente com as camareiras e o Salim, que é o chefe de recepção, os quais tiveram muita paciência com minhas limitações, tanto de língua, quanto de costumes. Qual não foi minha surpresa? No dia 25 chego para trabalhar e eles haviam feito uma vaquinha para comprar um cartão e um presentinho pra mim. Fiquei super emocionada, porque, de fato, não esperava nada (especialmente depois do incidente de eu ter sido a única a não receber presente de natal da chefe). Ganhei uma pulseira e um ouriço da sorte heheh (vai entender, mas ele é bonitinho!).
Às vezes me sinto verdadeiramente confusa em relação a eles, porque fica difícil de saber o que esperar. Mas, vamos deixar claro que não estou escrevendo isso tudo para condenar a maneira deles de viver, bem pelo contrário (já que assim eu estaria cometendo a mesma falta: o preconceito). Escrevo para mostrar a diversidade do ser humano. Acho incrível o modo com que as culturas foram se desenvolvendo e aprendendo a viver e a se relacionar, seja pela guerra ou pela paz. Não sou nenhum filósofo ou historiador, não entendo nada do assunto, escrevo como uma leiga, e como tal, com uma visão superficial, ingênua, mas sincera do assunto.
Aí voltamos ao princípio, que lidar pessoas nem sempre é fácil, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Como dizia meu professor de Comportamento do Consumidor, em relação às pessoas, só vemos o pico do iceberg, aqui dentro de cada um de nós existe muita coisa que nem mesmo a gente conhece às vezes, o que ele definiu como influências intrapessoais (variáveis pessoais e subjetivas do indivíduo) e influências interpessoais (contexto sociocultural).
É, acho que agora fui longe demais... ;)


3 comentários:

  1. Ali na frança... como quem diz que parece perto mesmo! rs.. de fato a comunicação, a rede nos permite permenecer perto. Disseste nesse texto "sobre as pessoas" da diversidade do ser humano. De fato é isso... Não bastasse cada indivíduo ser diferente, cada povo é diferente e valoriza seus costumes. É preciso aprender a conviver com isso. Mas disseste ser leiga no assunto. Eu discordo. Porque quando a questão é sobre o ser, não há nenhum filósofo, nenhum historiador, nenhum teórico que acerte mais do que quem vive isso de própria carne. E é exatamente o que estás fazendo! Pois se dizem que a vida é a melhor escola tenho certeza que sairás com doutorado daí rs! Continue nos escrevendo e não tenha medo de ir "longe demais" porque afinal, a França é logo "a Lih" mesmo rs! Bj guria!

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  2. Realmente o nome do blog ficou muito bom.
    E os textos tbm estão ficando muito bons, esse é um lado teu que eu nao conhecia muito bem, mas to gostando muito.
    To louco pra ler mais!!!
    beijao

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  3. Boa Lih!!! Gostei que abraçou a ideia do blog, tá mto bom, como os rapazes aí já comentaram... continue escrevendo e, quando isso virar livro, me convida para escrever o prefácio! haha
    Bjão, sdd. Tô gostando de ler ;)

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